terça-feira, 19 de abril de 2011

Como nasce a chuva.

Depois de algumas xícaras de café começou a prestar atenção nas notícias do jornal. Uma matéria em especial chamou sua atenção. A repórter comentou que novos estudos estavam sendo feitos para saber prever a chuva. Deixando a xícara de lado começou a ouvir. Segundo um pesquisador os estudos sobre o tema estavam avançando. Satélites especiais iriam passar informações sobre o tempo de forma mais correta, segura.
Depois de ouvir e ver a matéria se lembrou de uma teoria.
“ Quando você está com sono começa a contar carneirinhos. Os primeiros passam ligeiros. Com a aproximação do estado de sono outros carneirinhos estão mais lentos, quase de olhos fechados. Depois de um tempo, carneirinhos e pessoas sem sono estão dormindo. Aí acontece algo. Aqueles primeiros carneirinhos que passaram ligeiros continuam acordados e começam a girar formando uma grande roda gigante. Ficam girando, girando. Os carneirinhos meio sonolentos acham graça de ver os carneirinhos ligeiros rodando e começam a rir. Riem tanto que começam a chorar daí vem a chuva.”
Ao lembrar dessa teoria deu uma risada. Achava mais interessante acreditar na teoria dos carneirinhos risonhos.
Voltou a prestar atenção no jornal. “Hoje vai fazer sol, na região sudeste previsão de chuva no fim da tarde”.
(Talvez).

sábado, 16 de abril de 2011

Óculos de Grau...

Pede um café e senta num banco da praça. Uma praça desconhecida. A espera das 11horas.
Ascende um cigarro e fica observando as pessoas que chegam. Do lado direito carros e prédios. Do lado esquerdo transito de pessoas, a frente arvores secas, no pensamento um branco que tranqüiliza.
Amparada por duas acompanhantes uma senhora se senta bem em frente. A respiração ofegante faz aquele pensamento branco sumir. Fica imaginando quanto a senhora caminhou. Observa atenta suas vestes. Uma blusa branca de seda e uma calça preta de risca de giz. Sobre os olhos fechados  uma óculos antigo dourado. As acompanhantes conversam. Falam de coisas de minas...alguém que elas conhecem e é de Minas, pelo jeito de ser, não por nascimento. A senhora  respira fundo como se estivesse aliviada. Parece reconfortada. São 10:57, abandona o cigarro pela metade e caminha.  Evita pisar nas linhas da calçada, mais uma de suas manias.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Cheiro de lavanda.

Perseguida pela tosse a menina de olhos cor de mar tenta entender o por que da sua tosse. Pode ser gripe. mas a gripe já havia terminado semana passada (e a tosse continuava, seca). Tosse alérgica, bem sabe. Sabe também o que a provoca mas faz questão de buscar outra explicação. Esse vício é bom, pensa. Me sinto bem assim. O pensamento flui melhor...
Na segunda feira foi ao seu encontro habitual. Olhava o sino de vento de beija-flor. O quadro de São Jorge parecia mais vermelho do que o de costume, impressões. Sentou- se em frente a avó. Se entenderam no olhar.       
- Você está bem? pergunta a avó.
-Estou sim, só essa tosse que não passa. Responde a menina.
-Deve ser tosse alérgica. A menina sorri e pensa( do cigarro).
-Você sabe qual é sua cura, continua a avó. Outro sorriso.
Alguns gestos e aquele cheiro de lavanda penetra nas mãos da menina. Aparece um beija-flor que bebe a agua com açúcar ligeiro. A menina sorri. Tenho uma receita para sua tosse, diz a avó. Pegue umas três sementes de urucum, faça um chá e acrescente mel! Semana que vem quero te ver bem de saúde. Elas se despedem. Urucum e fácil de achar, pensa a menina, mas e o vício? Até promessa havia feito. Não fumar na quaresma. Em casa a menina ascende um cigarro que se mistura ao cheiro de lavanda. Por alguns instantes ela pensa em apagá-lo mas continua. Ascende outro e mais outro.
Pausa para a tosse.
Na vitrola o som dos Beatles "All you nedd is love". Devo para de fumar, pensa. Quero sentir o cheiro de lavanda por mais tempo...mais intensamente.


" E S quebrou um raminho de lavanda e me deu de presente com um beijinho."
                                      




Sinais...

Os pingos da chuva eram leves mas mesmo assim era necessário abrir o guarda-chuva. Caminhava despreocupada mente rumo  a plataforma seis do ônibus. A frente duas senhoras com seus quarenta ou cinqüenta anos. Uma delas, a mais nova, carregava um guarda-chuva vermelho a outra olhava para o teto da plataforma. ( talvez pensava; agora os pingos da chuva não me atingem). Em questão de segundos aquele lugar que abrigava quatro pessoas foi ficando cheio. Veio um rapaz de bermuda colorida e guarda-chuva preto, uma moça que ouvia música( estava com seu fone de ouvido), uma senhora de cabelos grisalhos e semblante sereno, dois senhores que entraram juntos e depois se separaram, um senhor de camisa bege e boina branca( devia ser bom de samba) e outro senhor de face endurecida.
A moça olhava para todos, tentava entende-los pelos gestos, nenhuma palavra era dita, apenas olhares que muitas vezes eram desviados quando se encontravam. A chuva era fina.
Um senhor, que estava de pé, queria se sentar, todos os bancos estavam molhados...aí o silêncio foi quebrado. O senhor de boina começou a conversar com o senhor que queria se sentar. Falavam da chuva. Um reclamava, dizia que esse excesso de chuva ia estragar a plantação. O outro concordou e falou que o café estava crescendo. A moça não entendeu. Ele concordava que a chuva podia estragar a plantação ou a chuva ajudava pois era época do crescimento do café?
A chuva continuava fina.
Veio o ônibus. Todos entraram apresada mente. Ônibus lotado. A moça olhava para a rua. O vidro estava embasado. Num gesto ela o limpou, a visão da rua ficou mais clara, só aquela pergunta não havia sido esclarecida; o senhor de camisa bege e boina branca achava que a chuva era boa ou não? Ajudava a plantação ou atrapalhava?
A chuva continuava fina.
É um bom sinal, pensava a moça.